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26 titles
- DirectorRobert BressonStarsClaude LayduNicole LadmiralJean RiveyreA young priest taking over the parish at Ambricourt tries to fulfill his duties even as he fights a mysterious stomach ailment.Ao adaptar o conterrâneo Georges Bernanos em cunho tão pessoal, é como se Robert Bresson perscrutasse a própria fé em convulsão. Faz da estrutura picotada nas notas epistolares, a narração preponderante – a ponto verbalizar o que estamos vendo ou comprimir sentimentos complexos – e as simbologias imagéticas os elementos narrativos da prisão interna, da angústia espiritual, do protagonista. As grades do portão que o jovem e ignorado padre [Claude Laydu, brilhante na primeira atuação] atravessa e vai se afastando, ficando pequeno, rumo ao encontro que selaria seu destino mostra o domínio do realizador no terceiro longa apenas, antes de entregar-se ao minimalismo pelo qual sua filmografia é mais lembrada de imediato. Estamos diante de um tratado existencial da fé em modo febril, mais sentido, paradoxalmente, por aqueles que buscam o sentido espiritual da vida. Óbvio, vai além disso, discutindo o fracasso da igreja na jornada de alguns muitos. ‘Que importa?’, conclui o claudicante pároco. ‘Tudo é graça.’
* * * * ½ Monteiro Júnior
01.01.19 - Luís Correia - DirectorBenny SafdieJosh SafdieStarsRobert PattinsonBenny SafdieJennifer Jason LeighAfter a botched bank robbery lands his younger brother in prison, Connie Nikas embarks on a twisted odyssey through New York City's underworld to get his brother Nick out of jail.A energia impressa pelos irmãos Josh e Benny Safdie possui a batida crua de uma rave que vai ficando cada vez mais fora do controle. Os personagens, à margem das expectativas mas tratados como heróis, entram numa claustrofóbica espiral de decisões estúpidas. A câmera, colada neles, parece registrar uma boa, e ingênua, intencionalidade mal compreendida. Até pelos próprios, dando-lhes uma áurea trágica. Cores e pulsações transformam esse passeio pelas ruas, a maior parte noturnas, de Nova York numa verdadeira jornada sensorial. Tortuosamente cinestésica. Ora irrita ora fascina. E Robert Pattinson segue no esforço para deixar de ser Robert Pattinson.
* * * Monteiro Júnior
02.01.19 - Telecine Play - DirectorPhil JohnstonRich MooreStarsJohn C. ReillySarah SilvermanGal GadotOn a quest to save the video game 'Sugar Rush' and to find a replacement, Ralph and his best friend Vanellope travel to the World Wide Web through a Wi-Fi router they find at the arcade.A sequência de ‘Detona Ralph’|2012 dá um pretensioso salto ao expandir-se para o universo da web – pena ser mais um american web ao invés do world wide. Não só visualmente, o próprio roteiro incorpora a linguagem dos memes, pop-ups, avatares, likes e digital influencers em sua estrutura, comprovando o potencial criativo das histórias voltadas à animação. Sem fugir das lições dolorosamente humanas da era da conectividade virtual. A concepção da internet em si como uma gigantesca metrópole talvez seja a melhor coisa que o gênero pode oferecer. Herança do trabalho de Rich Moore, diretor do filme anterior, em ‘Zootopia’|2016. Chega a ser fascinante a relação do mundo real com a representação na rede. Na verdade, é até bem didático sobre o funcionamento dos algoritimos. O subtexto é ainda mais forte: aquele mundo termina por alimentar o que há de pior em nós [‘Regra número 1 da internet: nunca leia os comentários.’] e como devemos desafiar, no clímax isso é literal, nossas carências e inseguranças. E se você acha que ‘Jogador No. 1’|2018 é um caldeirão de referências pops, espera até ver o resultado das marcas e dos estúdios indexados à narrativa. A festa do pijama com todas as princesas da Disney, e uma da Pixar, é apenas outro detalhe para saborear.
* * * ½ Monteiro Júnior
03.10.19 - Cinépolis Rio Poty, sala Marco XE - DirectorMohamed Ben AttiaStarsMohamed DhrifMouna MejriZakaria Ben AyyedA Tunisian middle class couple with high hopes for the future of their only son discover he's left to join ISIS in Syria.Mohamed Ben Attia usa tema espinhoso para a Tunísia – os jovens que abandonam tudo em prol de combater pelo Estado Islâmico – como gatilho de uma reflexão mais universal: como os pais se projetam na vida dos filhos e anulam sua própria. Nesse segundo longa, ancorado na atuação de angústia contida de Imen Cherif, promove uma insuspeita descida às sutis fissuras familiares. Bem demarcada em três atos, a narrativa descama a convivência entre os três membros e, indiretamente, questiona o que, no fundo, forma uma família. A resposta, se houver, remete a uma cena específica no fim do segundo ato, brusca, tonalmente destoante, que confere sentido justamente por pairar em aberto. A conveniência em acreditar sermos incapazes de desistir fácil dos nossos laços de sangue.
* * * Monteiro Júnior
05.10.19 - Cinemas Teresina, sala 7 - DirectorSacha GervasiStarsPeter DinklageJamie DornanFrida MuntingA look at the life of French actor Hervé Villechaize, co-star of the hit '70s TV series Fantasy Island (1977), who took his own life in 1993 at the age of 50.Sacha Gervasi [‘Hitchcok’|2012] ficcionaliza seu encontro com Hervé Villechaize, o Tattoo da série ‘Ilha da Fantasia’|1977-1984 [‘Da Plane! Da Plane!’, era o seu bordão] – ou, se preferir uma referência cinematográfica, o Nick Nack de ‘007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro’|1974. Com algum humor em meio a uma melancolia [auto]destrutiva, permite um ótimo Peter Dinklage humanizar o quanto pode o personagem entorpecido de excessos, dores corporais [não mencionadas na produção] e rejeições afetivas. Os intercalados flashbacks didáticos teimam em estruturar uma biografia, mas não conseguem montar qualquer quebra-cabeça. Nem deveriam.
* * ½ Monteiro Júnior
06.01.19 - HBO GO - DirectorAva DuVernayStarsStorm ReidOprah WinfreyReese WitherspoonAfter the disappearance of her scientist father, three peculiar beings send Meg, her brother, and her friend to space in order to find him.Que bagunça! A adaptação do popular livro de Madeleine L’Engle dirigida por Ava DuVernay [‘Selma – A Luta pela Igualdade’|2014] é cheia de ótimas intenções, sobretudo acerca de representatividade étnico-racial e autoaceitação, mas sem nenhum cérebro. Ou mesmo bom senso narrativo. Sabe quando cada membro da equipe parece estar participando de um filme diferente? Não? Pois confira esse contraexemplo didático. O roteiro coescrito por Jennifer Lee [‘Frozen – Uma Aventura Congelante’|2013] simplesmente ignora as lacunas do enredo metafísico e entrega diálogos que talvez escapassem numa animação. O mesmo vale para as atuações, todas caricatas – das crianças aos adultos. A mise-en-scène de DuVernay, apressada, perdida, com planos feios e holandeses, beira a vergonha alheia. Como a primeira diretora negra a comandar uma produção de alto orçamento, não faria mal ter tido mais cuidado na concepção atmosférica da obra. Afinal, é História que está fazendo.
* ½ Monteiro Júnior
08.01.19 - Telecine Play, madrugada - DirectorPaul SchraderStarsEthan HawkeAmanda SeyfriedCedric The EntertainerA minister of a small congregation in upstate New York grapples with mounting despair brought on by tragedy, worldly concerns and a tormented past.Paul Schrader cruza Bresson e Bergman na mesma naturalidade com a qual usa as urgentes questões climáticas/ambientais do nosso tempo para engatilhar um profundo, e palpável, conflito de fé na igreja. Nos escusos comprometimentos por trás dela. Impossível não pensar no arco dramático de Travis Bickle em ‘Taxi Driver’|1976, cujo roteiro é também de Schrader, diante da vertiginosa descida do protagonista feito aqui por Ethan Hawke aos próprios recantos escuros. No geral, soa como um filme simples na superfície. Foi realizado de maneira simples. Abaixo dessa primeira camada, há uma narrativa séria de jogos simbólicos – da razão de aspecto 1:37 expondo a claustrofobia interior dos personagens à estrutura moldada em red herrings para nos levar a uma insuspeitíssima [nem tanto] ruptura na nervosa conclusão. Ignore o título nacional de novela de banca de jornal. De filmografia irregular, Schrader nos deu algo para refletir dessa vez.
* * * Monteiro Júnior
09.01.19 - DirectorLouis MalleStarsLea MassariBenoît FerreuxDaniel GélinAs France is nearing the end of the first Indochina War, an open-minded teenage boy finds himself torn between a rebellious urge to discover love, and the ever-present, almost dominating affection of his beloved mother.Mas como não se apaixonar por uma mãe como Lea Massari? O mais surpreendente, ainda hoje, é a sensibilidade com a qual Louis Malle desenvolve essa escalada incestuosa com periférica naturalidade, pegando fragmentos de sua própria juventude para compor um curioso – provocador, sem dúvida –, rito de passagem e descoberta sexual. Ele afirma que a parte do incesto é pura ficção, só para constar. O personagem feito pelo jovem Benoît Ferreux tenta se equilibrar entre todas essas emoções, mais a aversão ao pai e a veneração pelo jazz de Charlie Parker. A projeção diegética do fim da inocência na França em meio à Primeira Guerra da Indochina. Até certo ponto precursora da Guerra do Vietnã.
* * * Monteiro Júnior
10.01.19 - Telecine Play, madrugada - DirectorChristian RiversStarsHera HilmarRobert SheehanHugo WeavingIn a post-apocalyptic world where cities ride on wheels and consume each other to survive, two people meet in London and try to stop a conspiracy.Não bastasse a grandiloquência visual xerocopiada dos filmes da Terra-Média, as engrenagens narrativas se desmantelam em virtude do raso roteiro pautado por clichês e do ritmo apressado. Alegoria distópica da crescente autofagia urbana – levada a um nível tão literal quanto bobo. Peter Jackson produz e coescreve a adaptação do primeiro livro da quadrilogia infanto-juvenil do britânico Philip Reeve. Não dirige, porém. Passa o comando para Christian Rivers, seu storyboard artist desde os tempos de ‘Fome Animal’|1992. Mas precisava emular o patrão até nos movimentos de câmera? Resulta numa pomposa experiência cinematográfica sem qualquer personalidade, a não ser a de Jackson. A premissa tem seus motivos, o problema é levá-la a sério depois de apresentar os Minions como os deuses americanos de plástico. Liga Antitração e Darwinismo Municipal, os conceitos terminam evocando risos ao invés de reflexão. Os personagens são caricaturas presas numa estrutura esquemática que insiste nas reviravoltas mais fáceis de prever. Até mesmo o interessante Shrike, um humano ressuscitado como máquina e cheio de potencial à la Terminator, não é explorado como poderia. Basta, resumindo, assistir ao filme para compreender o monumental fracasso nas bilheterias. Peter Jackson e sua afinada trupe precisam se reinventar. E logo. Chega de ‘O Senhor dos Anéis’ genérico.
* * Monteiro Júnior
10.01.19 | Cinemas Teresina, sala 7 - DirectorIrving CummingsStarsDon AmecheBetty GrableCarmen MirandaAn American girl on vacation in Argentina falls for a wealthy racehorse owner.O roteiro não é o ponto forte desse musical realizado dentro da Política de Boa Vizinhança de Franklin Roosevelt para com os países da América do Sul. Assim como não percebemos o ‘jeito argentino’ pregado pelo título original de tão ‘americanizadas’ e estereotipadas que estão Bueno Aires e a zona rural. O que deveria aproximar, terminou afastando mais – o filme foi vetado na Argentina. Difícil, mesmo assim, resistir à atmosfera leve, o descompromisso e o carisma do elenco, Don Ameche fazendo par romântico com Betty Grable prestes a deslanchar. Marca a primeira participação da brasileira de coração Carmen Miranda no cinema hollywoodiano. Apenas duas [três?] aparições acompanhada do Bando da Lua, e sem influência alguma no enredo em torno de corrida de cavalos. Até os Irmãos Nicholas retornam com seu ótimo número no final, que reúne todo mundo, inclusive personagens ‘demitidos’, menos a Pequena Notável. E olha que aparece na cartela dos atores principiais. Mas façamos justiça: a produção que foi até ela, filmar no clube em Nova York onde se apresentava. Fazer Hollywood vir até você, em vez de você ir, não é para um qualquer.
* * ½ Monteiro Júnior
11.01.19 - Telecine Play - DirectorBob PersichettiPeter RamseyRodney RothmanStarsShameik MooreJake JohnsonHailee SteinfeldTeen Miles Morales becomes the Spider-Man of his universe and must join with five spider-powered individuals from other dimensions to stop a threat for all realities.A narrativa mais interessante do herói desde... quando mesmo? Não só amplia o escopo temático/social do personagem com a introdução do jovem Miles Morales e as possibilidades de brincar com o próprio universo Marvel, como também é um deleite visual numa trilha de curvas psicodélicas. Da textura da imagem que mimetiza as imperfeições dos quadrinhos impressos em offset antigamente ao Multiverso estruturando o criativo roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman. Excita o fato do filme operar num ritmo frenético sem soar atropelado, e a história ser mais elaborada do que muitos sci-fis, mas com um fio condutor fácil de acompanhar. A energia imposta pelos três diretores, Bob Persichetti, Peter Ramsey [‘A Lenda dos Guardiães’|2012] e Rothman, unida ao design imagético e à vertigem do enredo, oferece uma experiência bem sensorial. Toda essa ousadia quase experimental, estranha, mantendo a essência – qualquer um pode ser o Homem-Aranha, certo? – da criação de Stan Lee e Steve Ditko, ambos partidos em 2018 e homenageados aqui. Além do mais, privilegiar a trilogia de Sam Raimi em meio às [abrangentes] referências ultrapassa o mero detalhe. É um recado ao estúdio. Fôlego novo inserido no próprio gênero da animação?
* * * * Monteiro Júnior
12.01.19 | Cinépolis Rio Poty, sala vip 1 - DirectorAndré De TothStarsVincent PriceFrank LovejoyPhyllis KirkAn associate burns down a wax museum with the owner inside, but he survives only to become vengeful and murderous.Mais de seis décadas desde a estreia, o enredo continua mórbido e a atuação de Vincent Price eterniza a atmosfera. Com a visão em apenas um olho, o húngaro-austríaco André De Toth realizou o primeiro filme colorido em 3D de um grande estúdio, Warner. A ironia é ele não ter conseguido ver como o recurso ficou e, mesmo assim, o filme se converteu num sucesso nas bilheterias. Não passa de um gimmick, claro, evidente na quebra inorgânica da quarta parede exclusivamente para brincar com o público. De resto, esse remake de ‘Os Crimes do Museu’|1933 realizado na onda do horror dos anos 1950 se sustenta bem. Difícil não achar as estátuas de cera vivas, e a produção até faz humor com isso. Por outro lado, a caracterização, em termos de maquiagem, do Prof. Jarrod de Price beira o horripilante. Filme e personagem viraram cults. Repare num dos primeiros papéis de destaque de Charles Bronson, assinando como Buchinsky, sem falar uma palavra.
* * * Monteiro Júnior
13.01.19 - DirectorDavid LoweryStarsRobert RedfordCasey AffleckSissy SpacekBased on the true story of Forrest Tucker and his audacious escape from San Quentin at the age of 70 to an unprecedented string of heists that confounded authorities and enchanted the public.David Lowery elabora uma camada de leitura sutil, nessa observação de personagem, amparada pela simplicidade da câmera, a atmosfera quase contemplativa, o ritmo sem pressa: o lidar com a depressão na velhice e encontrar, mesmo fora da lei, alguma fagulha de regozijo no interior de si. A produção ganha a tela a partir do artigo escrito por David Grann para a New Yorker acerca da The Over-the-Hill Gang, ladrões de bancos que mesmo com idade avançada fizeram ‘educadamente’ dezenas de assaltos nos anos 1970/1980. O foco da narrativa é o líder do grupo, o ‘escape artist’ feito por Robert Redford. Anunciando a aposentadoria da frente das câmeras, em nenhum momento esconde a idade que tem. Sempre na linha volúvel da romantização de um criminoso, o ator extrapola o quadro com sobriedade. O filme usa trechos de performances suas antigas, num tributo assumido à sólida carreira do eterno The Sundance Kid. Bonita a relação que desenvolve com outra veterana, Sissy Spacek – e aquela luz vermelha da lanterna traseira do carro sobre o rosto dela é referência nostálgica a ‘Carrie, a Estranha’|1976. Com Danny Glover e Tom Waits completando a gangue, é como se a homenagem de Lowery fosse estendida aos talentos esquecidos da atuação ‘old school’. Basta notar que Casey Affleck, o mais novo no casting, parece o personagem que mais sente o peso do próprio desânimo.
* * * Monteiro Júnior
15.01.19 - DirectorM. Night ShyamalanStarsJames McAvoyBruce WillisSamuel L. JacksonSecurity guard David Dunn uses his supernatural abilities to track Kevin Wendell Crumb, a disturbed man who has twenty-four personalities.M. Night Shyamalan realiza um feito digno de nota: orquestra com pompa uma pílula de placebo. No macro, a premissa que fecha a tal Trilogia Eastrail 177 soa instigante e coerente com a atmosfera construída nos filmes anteriores. Quase engana. De perto, os ligamentos estruturais são frouxos e se quebram sem qualquer traço da sutileza expositiva que funcionava às maravilhas em ‘Corpo Fechado’|2000. Mesmo o irregular ‘Fragmentado’|2016, que força o elo da tríade de maneira inorgânica nos créditos finais, operava na psicologia dos personagens – embora a abordagem do abuso infantil como o salva-vidas da vítima seja de uma falta de sensibilidade berrante. Agora nada disso importa. O afã do realizador em fazer uma ode aos quadrinhos, quase uma defesa epistemológica metalinguística boba, transforma a reunião multicolorida de suas interessantes criações num pastiche escancarado. No mesmo instante em que é bom nas rimas visuais, como a devida apresentação do desperto Elijah Price no reflexo do computador remete à sua primeira aparição, também refletida, falha em dar o mínimo de consistência aos tráfegos do enredo. Todos os elementos são montados de forma frágil, os encontros e desencontros das figuras principais e secundárias, as crateras convenientes no roteiro, o red herring com o prédio fazendo referência a Marvel, os diálogos cartunescos. Passo a passo, a narrativa vai se perdendo, insiste em manter-se geograficamente retida; o que poderia ter potencial, mas decepciona ao optar por um embate anticlimático, anticatártico, anticinemático entre David Dunn/The Overseer e Kevin Wendell Crumb/The Beast diante dos olhos esbugalhados de Mr. Glass. Nada do prometido há 19 anos no foreshadowing na capa da hq que o jovem Elijah ganha da mãe no banco atravessando a rua. Nada à altura do próprio conceito de pôr em cheque a própria existência e o seu lugar no mundo [função de Sarah Paulson na simbólica sala rosa] para enfim abraçar a verdadeira natureza, por mais fantástica que seja. Como tem sido sua marca desde, o quê, ‘A Vila’|2004, Shyamalan foi autoindulgente com sua obra. Teve chance de nos presentear com uma conclusão de diamante. Entregou uma de vidro.
* * Monteiro Júnior
17.01.19 | Cinemas Teresina, sala 5 - DirectorAndré Novais OliveiraStarsRenato NovaesAndré Novais OliveiraMaria José Novais OliveiraA crisis in the relationship of an elderly couple affects the routine of the children. The family represented in the film is true, formed by the parents and brother of director André Novais, who also acts.O mineiro André Novais Oliveira leva o artifício cinematográfico – a ilusão – a um patamar especialmente singular. Como em curtas seus, utiliza os membros da própria família, e ele não se furta de estar no meio, como personagens e lança mão [segura para um primeiro longa] de uma abordagem documental da narrativa. Constrói esse híbrido imersivo que revela com sensibilidade as ranhuras cotidianas. A obra, de ficção, traz uma atmosfera tão naturalista que com frequência é analisada como um documentário. Mérito da opção do realizador por planos longos, majoritariamente estáticos, e por permitir aos atores [nada de aspas aqui] oferecerem para a câmera muito de suas verdadeiras personalidades. Sem aderir diretamente a temáticas étnicas militantes, o roteiro se desembrulha em torno de uma crise conjugal e como a mesma respinga nos filhos. Nesses termos, consegue igualar a periferia negra de Contagem, Minas Gerais, às ‘melhores famílias de Londres’. Oliveira encontrou um meio de fazer um cinema negro político sem a cor da pele precisar ser o leitmotiv da história.
* * * ½ Monteiro Júnior
20.01.19 - Canal Brasil - DirectorMichelangelo AntonioniStarsJack NicholsonMaria SchneiderJenny RunacreUnable to find the war he's been asked to cover, a frustrated war correspondent takes the risky path of co-opting the identity of a dead arms-deal acquaintance.Troca de identidades, acidental ou roubada, sempre foi um tema caro à literatura e ao cinema. Em Michelangelo Antonioni, porém, o artifício é usado para engatilhar uma enérgica fuga existencial do protagonista. Talvez a primeira abordagem do assunto num exame personalíssimo do vazio pós-moderno. O repórter feito por Jack Nicholson não hesita em agarrar a oportunidade de escapar da própria vida e encontrar propósito no avatar que toma para si, mesmo que isso o leve a traficar armas ilegalmente. Assistindo hoje, funciona como uma alegoria da virtualização da realidade, você poder ser outra pessoa para manter-se em movimento. Nicholson e Maria Schneider dentro do quadro, o quanto essa mistura de estilos é instigante para um diretor? E todo o simbolismo de destino inexorável do elaborado plano-sequência de sete minutos na penúltima cena? Último filme em inglês da parceria de Antonioni com o produtor Carlo Ponti, depois de ‘Blow-Up’|1966 e ‘Zabriskie Point’|1970, foi para deixar o registro indelével.
* * * * Monteiro Júnior
20.01.19 - DirectorKaryn KusamaStarsNicole KidmanToby KebbellTatiana MaslanyA police detective reconnects with people from an undercover assignment in her distant past in order to make peace.A narrativa de Karyn Kusama, segura do ‘elaborado’ twist final, se esquece de refletir se o mesmo não passa de um truque barato que valoriza o fluxo rasteiro de flashbacks causa/consequência da protagonista. Com Nicole Kidman inclinada a atuar sob a maquiagem, embora não esconda a afetação disso como muleta dramática, perde a chance de propor um estudo de personagem menos elementar. Menos clichê. É simples: tire o impacto da revelação estrutural do longa, o que sobra? Um desenrolar investigativo autoindulgente, morno, atrelado a questões pessoais tratadas de forma esquemática e que a cada cinco minutos quebra o próprio ritmo [já lento] para se complementar no passado dos personagens. Se pelo menos brincasse com a percepção das lembranças. Ou se todo o meio do enredo da dupla Phil Hay e Matt Manfredi não fosse o mero uma informação conduz à outra. A autoexpiação de Kidman percorre um ‘labirinto’ tão burocrático... Lá se vai a chance de um potencial neo-noir com substância.
* * ½ Monteiro Júnior
22.01.19 - Cinépolis Rio Poty, sala vip 2 - DirectorMichael AptedStarsSissy SpacekTommy Lee JonesLevon HelmThe fictionalized life of singer Loretta Lynn, a girl who rose from humble beginnings to become a country music star in the 1960s/70s.É quase um assombro acompanhar a paulatina transformação de Sissy Spacek de uma adolescente caipira à cantora country que não escapa de sentir o peso do próprio sucesso. Parece interpretar diversas personagens sem perder a essência da que está realmente defendendo: Loretta Lynn. Nem que para isso precise cantar, cuidar de quatro [seis!] filhos e lidar com o relacionamento nada suave com o marido [Tommy Lee Jones louro]. Na verdade, isso é o que ultrapassa a estrutura burocrática dessa cinebiografia roteirizada por Thomas Rickman, falecido ano passado. A direção de Michael Apted, por sua vez, privilegia os atores ao invés do estilo.
* * * Monteiro Júnior
23.01.19 - DirectorPeter FarrellyStarsViggo MortensenMahershala AliLinda CardelliniA working-class Italian-American bouncer becomes the driver for an African-American classical pianist on a tour of venues through the 1960s American South.Peter Farrelly usa estratégias simples e elegantes em seu primeiro drama, sobretudo dirigindo sem o irmão Bobby. Privilegia o plano de conjunto na razão de aspecto 2:1, assim como o humor mais sutil – para quem exercitou o escrachamento cômico de ‘Débi & Lóide’|1994 à sua continuação 20 anos depois, um feito e tanto –, para potencializar a gradativa amizade entre os personagens enquanto atravessam o seio racista estadunidense, o sul profundo, na década de 1960. A interação entre os fantásticos Viggo Mortensen e Mahershala Ali extrapola a própria intenção textual. O primeiro, um italiano nada discreto, servindo como motorista para o talentoso pianista negro com problemas de autoafirmação, feito pelo segundo, numa turnê que atestará mais uma vez o poder empático das narrativas. A produção trabalha bem o sentido desse contato, a transformação de ambos no lidar com a segregação racial e com os próprios preconceitos, a partir de uma história real. Dos ligeiros desequilíbrios na balança, o que mais pesa é o Livro Verde do título, um guia de viagem para negros com hotéis e restaurantes onde seriam aceitos, não ter sido mais usado para discutir e/ou catalisar a temática da obra. Há pouquíssima participação ativa da controversa publicação de Victor Hugo Green e seu triste simbolismo. Por outro lado, o afeto sincero que um vai nutrindo pelo outro ao longo da viagem e a dignidade que Ali ressignifica no final são pérolas numa sessão amarradinha. Mesmo escancarando alguns esquemas óbvios, tornam a jornada revigorante. E uma prova de que não há qualquer lógica para a intolerância de um ser humano com alguém da mesma espécie.
* * * ½ Monteiro Júnior
24.01.19 - Cinépolis Rio Poty, sala vip 3 - DirectorBjörn RungeStarsGlenn CloseJonathan PryceMax IronsA wife questions her life choices as she travels to Stockholm to see her husband receive the Nobel Prize for Literature.Glenn Close mostra como pegar um roteiro estruturalmente sofrível e entregar a performance do ano (qual mesmo? 2017? 2018? 2025?) a partir das rubricas e descrições sutis. É tudo tão dolorosa e maravilhosamente interiorizado que bastam o silêncio e o olhar para a vivência passiva da personagem soltar urros. Chega ao ponto de colocar o conceito antiquado de ‘esposa dedicada’ sob o viés masculino no lugar de ultraje que há muito merece. E garanto que a belíssima atuação teria ressonância ainda mais forte se o enredo, adaptado por Jane Anderson do livro de Meg Wolitzer, não particularizasse tanto a relação dela com o marido escritor-recebendo-o-Nobel numa abordagem de apelo cinematográfico – ou literário, se preferir. Expusesse sem artifícios narrativos(os flashbacks antecipam as ‘surpresas’) as pequenas doses diárias de veneno que as mulheres recebem para ‘entender o lugar delas’, os maridos sairiam da sessão em merecidos maus lençóis. Ao mesmo tempo que faz de Jonathan Pryce o vilão quase cartunesco, e o ator o defende tão bem que acinzenta a construção do personagem, coloca a protagonista como consciente das próprias escolhas, tomadas por sua percepção das engrenagens machistas do mundo. Em vez de oferecer uma base sólida para discutir toda esse movimento complexo, o filme dirigido com elegância pelo sueco Björn Runge insiste em valorizar a presença do antipático pretenso biógrafo [Christian Slater] que em poucos diálogos expositivos resume as fissuras que Close estava revelando com magnífica precisão. Assim como não entendo a decisão de encerrar o filme com o avião no ar quando, na cena anterior, o olhar dela para nós, logo após passar os dedos na folha em branco e perceber o que continuar fazendo o papel da ‘esposa dedicada’ acarretaria, seria o desfecho na nota certa. Nada mancha, felizmente, o brilho com o qual a atriz grita os não-ditos da condição feminina na nossa cara.
* * * Monteiro Júnior
25.01.19 - Cinemas Teresina, sala 1 - DirectorSteven Caple Jr.StarsMichael B. JordanSylvester StalloneTessa ThompsonUnder the tutelage of Rocky Balboa, newly crowned heavyweight champion Adonis Creed faces off against Viktor Drago, the son of Ivan Drago.Dentro do ringue, o protagonista-título vivido por Michael B. Jordan encara o raivoso filho de Ivan Drago para descobrir por que realmente luta. Fora, o tom familiar gira em torno da paternidade, dos pais ausentes aos de primeira viagem. Sem trazer surpresas, a estrutura nostálgica é o jab mais certeiro. Embora não seja mais [ou não devesse ser], a saga ainda é sobre Rocky Balboa [Sylvester Stallone], agora em clima de passar o bastão. Em Hollywood, porém, nunca dá para saber quando é o fim de algo. O roteiro, do próprio Stallone e de Juel Taylor, comove pelo respeito que tem a esses personagens, escritos como se fossem pessoas reais, as quais você quer acompanhar independente do enredo. Trazer Dolph Lundgren de volta como Drago, de ‘Rocky IV’|1985, deveria ter uma atmosfera especial que, por algum motivo, escapa do quadro. Steven Caple Jr. assume a direção, e mesmo sem a inventividade de Ryan Coogler sua mise-en-scène das duas últimas lutas – como no filme anterior, os três atos da história são pontuados por uma luta cada – conseguem ser organicamente emocionais. Mesmo com os resultados previsíveis, sinal de que a experiência funciona. Ver Adonis Creed encontrar seu lugar interior para não repetir o destino do pai é uma metáfora poderosa sobre evoluir como indivíduo.
* * * Monteiro Júnior
26.01.19 - Cinemas Teresina, sala 5 - DirectorLuiz BolognesiStarsPerpera SuruíEver since their first contact with the Western world in 1969 the Paiter Suruí, an indigenous people living in the Amazon basin, have been exposed to sweeping social changes. Smartphones, gas, electricity, medicines, weapons and social media have now replaced their traditional way of life. Illness is a risk for a community increasingly unable to isolate itself from the modernization brought by white people or the power of the church. Ethnocide threatens to destroy their soul. With dogged persistence, Perpera, a former shaman, is searching for a way to restore the old vitality to his village.Mais do que um estudo de personagem, consegue registrar de maneira sóbria a melancolia da aculturação. No caso, da tribo suruí-paiter, na divisa entre os Estados de Rondônia e Mato Grosso, frente à agressiva inquisição evangélica que relegou a figura dos pajés às sombras. A estrutura híbrida adotada por Luiz Bolognesi, com câmera fixa e enquadramentos precisos, potencializa a imersão num universo quase todo descaracterizado pela chegada do homem branco em 1969. O design de som, por sua vez, marca o ritmo diegético muito particular dos indígenas de dominar o tempo, não lutar com ele. Ao observar o cotidiano do ex-pajé Perpera Suruí, o filme revela com sutileza as consequências comportamentais de ter sua função social proibida. Assim como os atos de resistência de quem nunca deixa de ser quem é, apesar do sistemático etnocídio.
* * * Monteiro Júnior
26.01.19 - Canal Brasil - DirectorDavid LynchStarsJack NanceCharlotte StewartAllen JosephHenry Spencer tries to survive his industrial environment, his angry girlfriend, and the unbearable screams of his newly born mutant child.Filme da meia-noite por excelência, o début de David Lynch na realização de longas foi se afirmando como cult com o tempo. A alegoria do pesadelo lynchiano da paternidade, em camadas surrealistas, é, antes de tudo, uma prova de poder dos artifícios cinestésicos na sétima arte. Som e imagens criando sentidos não tão óbvios a princípio, como se fosse o inconsciente conduzindo a narrativa. Em diversos aspectos, já traz os elementos, ainda em maturação, que marcariam a carreira dele como cineasta e sua abordagem do processo criativo: o humor negro penetrando insuspeitamente gêneros para acentuar o estranhamento e o entrelace sonho-realidade desafiando a percepção da obra. Lynch sempre se esgueirou de explicar os simbolismos da produção, assim cada um a absorve como consegue. Mas a espinha dorsal é simples. Forte influência de Dalí e Kafka [ele cita também Gógol], em espectros distintos. De atmosfera sufocante, há trechos com o bebê deformado que, mais de 40 anos depois, ainda exigem um bom estômago.
* * * ½ Monteiro Júnior
28.01.19 - DirectorAndré Novais OliveiraStarsGrace PassôRusso AprRejane FariaIn order to take a new job as an employee in the public sanitation department, Juliana moves from the inner city of Itaúna to the metropolitan town of Contagem in Brazil. While waiting for her husband to join her, she adapts to her new life, meeting people and discovering new horizons, trying to overcome her past.O segundo longa de André Novais Oliveira [‘Ela Volta na Quinta’|2015] se volta para personagens que ninguém dá atenção, numa sensibilidade de quem compreende o protagonismo microcósmico de cada vida, a escala épica dos dramas ‘corriqueiros’. Com economia de planos longos, a câmera embebe-se na atmosfera do cotidiano da cidade mineira de Contagem, onde Oliveira cresceu, observando sutis explosões dramáticas em atuações lindamente naturalistas. A trupe de fiscais no combate às endemias permite ao realizador quebrar uma série de estereótipos e filtrar a realidade brasileira por um viés humanista, cheio de afeto, humor e camaradagem. Grace Passô catalisa as mais diversas emoções nos olhares e pausas, criando sua Juliana por baixo da pele. Dessa forma, vai pontuando as mudanças dela com discrição, entre um riso e um silêncio desconfiado, absorvendo a nova realidade e os novos amigos sem ainda compreender tudo o que não vai retornar. Por isso a risada na última cena é tão precisamente catártica, como se ali ela se desse conta que, talvez pela primeira vez na vida, está assumindo a direção do próprio destino. Está pronta para se reinventar e não parar mais.
* * * ½ Monteiro Júnior
29.01.19 - Cinemas Teresina, sala 4 - DirectorGus Van SantStarsTim StreeterDoug CooeyateRay MongeA story of amour fou. Walt is madly in love/lust with a young illegal Mexican immigrant. However, the object of his unrequited affection doesn't even speak any English and finds Walt really strange and undesirable.Pouco mais de três décadas da estreia de Gus Van Sant em longas, o filme segue assombrosamente atual na atmosfera em torno dos imigrantes mexicanos ilegais nos Estados Unidos. Sobretudo com Donald Trump esperneando para aprovar no congresso o orçamento do seu controverso muro na fronteira entre os países. Devaneios xenófobos à parte, o p&b dos sujos quadros 16 mm evocam toda a marginalização dos personagens e a montagem pulsa uma urgência justificada pelo contexto social. Baseado no relato autobiográfico do escritor Walt Curtis, Van Sant já diz a que veio nessa obra personalíssima até nos excessos.
* * ½ Monteiro Júnior
30.01.19 - Mubi